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Professor de Stanford questiona flexibilização do currículo

Year: 
2018

David Plank diz no Congresso da Jeduca que 'a maioria dos alunos não sabe o que pretende fazer no futuro' e o ideal seria oferecer 'educação ampla em todas as disciplinas, uma base 100% comum para todos'

Autor de uma pesquisa comparativa entre a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e o seu equivalente americano, o Common Core, o pesquisador da Universidade de Stanford David Plank fez ressalvas à proposta de flexibilização do currículo prevista na reforma do ensino médio. Plank disse que "a maioria dos alunos não sabe o que pretende fazer no futuro” e o ideal seria oferecer “educação ampla em todas as disciplinas, uma base 100% comum para todos os estudantes”. Ele dividiu nesta terça-feira uma mesa no 2º Congresso da Jeduca com outro professor de Stanford, Martin Carnoy.

Plank tem uma visão mais otimista sobre a BNCC, embora admita que ela é cercada de controvérsias. “A Base é um alvo e uma alavanca”, disse, ressaltando a importância do papel do Estado de definir o que é uma educação de qualidade e os objetivos centrais do sistema de ensino. Para ele, essa responsabilidade não pode ficar na mão dos professores.

“Se a gente não sabe para aonde vai, qualquer caminho serve. É importante ter caminhos claros, bem objetivos, um alvo. Os professores precisam de uma ideia do que eles têm que fazer em sala de aula”, disse Plank, que, como Carnoy, é pesquisador do Centro Lemann, mantido em Stanford pela Fundação Lemann.

Porém, para mudar o sistema educacional e fazer da Base uma alavanca, será necessário um esforço sistemático de implementação. “Tem que mudar as avaliações para alinhar com os objetivos institucionais nas escolas; tem que mudar a formação dos professores e mudar os materiais e livros didáticos”, declarou.

Na questão das avaliações de larga escala, Plank disse acreditar que elas podem motivar países, escolas e alunos a melhorarem o desempenho, mas os esforços terão poucos resultados se não houver um alinhamento entre os padrões adotados, o currículo e o que os professores ensinam. “Se houver esse alinhamento, os alunos vão dominar os padrões."

As avaliações foram um dos temas tratados por Carnoy, que chamou a atenção para a falta de significado dessas provas para os alunos. Ele afirmou que, do ponto de vista das escolas, a Prova Brasil é, em alguns casos, muito importante, mas não para os estudantes, que podem até fazer o exame de forma “aleatória”. “Como você interpreta o resultado dessa avaliação?”, provocou.

Carnoy também falou de outro tópico controverso, a antecipação do processo de escolarização. Ele afirmou que essa política pode ser eficaz para melhorar o desempenho das crianças no ensino fundamental. Segundo o pesquisador, há estudos mostrando que escolas que transformam o último ano da educação infantil no 1º ano do fundamental alcançam efeitos positivos no aprendizado. “Isso não custa quase nada e é mais eficaz que qualquer intervenção no ensino médio”, destacou.

O professor de Stanford também chamou a atenção para a necessidade de os jornalistas de educação levarem em consideração fatores externos que interferem no aprendizado, evitando atribuir o desempenho dos estudantes apenas à escolas. Entre esses fatores, Carnoy citou questões de saúde, a dinâmica de vida em comunidades violentas e a ausência de suporte familiar.

O pesquisador disse que os cursos de formação de professores não contemplam essas questões e não preparam os docentes para lidar com elas. Para Carnoy, aliás, a formação docente é um aspecto-chave de pesquisa e investigação para todos aqueles que querem compreender a educação em toda a sua complexidade. Segundo ele, além de analisar os cursos de Pedagogia e as licenciaturas, é preciso entender bem o currículo e a dinâmica de funcionamento do sistema educacional (as diferenças de atribuições e responsabilidade entre os níveis municipal, estadual e federal).