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Sem apoio, Base ficará esquecida em uma prateleira de Brasília

Year: 
2018

An interview with Prof. David Plank

Por: Beatriz Vichessi

Na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, David Nathan Plank estuda o documento que forma a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em comparação ao Common Core, que vigora nos Estados Unidos desde 2010. Professor da Escola de Pós-Graduação de Educação e diretor de Faculdade do Centro Lemann para Inovação e Empreendedorismo na Educação Brasileira, há quase 40 anos, ele foi professor e pesquisador no Brasil.  

Segundo Plank, os novos padrões de aprendizagem dão um direcionamento do que os professores e as escolas têm de fazer. Ele reitera, porém, que é preciso investir na formação dos professores.

Quais os maiores desafios para a implementação da Base Nacional Comum Curricular? 
Primeiramente, é muito importante esclarecer o que é a BNCC: um conjunto de padrões acadêmicos que especifica o conhecimento e as habilidades que os alunos devem adquirir durante o período de escolaridade. Não se trata de um currículo, muito menos de um conjunto de planos de aula. Por isso, colocar a Base em prática na sala de aula vai exigir grandes investimentos na formação docente e no desenvolvimento de livros didáticos e materiais que possam ajudar os professores a dar aulas alinhadas aos padrões estabelecidos por esse novo documento.

De que depende a BNCC para dar certo nas escolas? 
O material foi desenvolvido durante um extenso processo de diálogo com educadores e a sociedade civil, e esse esquema deve continuar para colocar a teoria em prática de forma satisfatória. O sucesso ou o fracasso da Base junto aos educadores depende do trabalho realizado junto a eles nas escolas, não em Brasília, de forma isolada. É fato que ela pode contribuir com grandes melhorias em relação ao aprendizado dos alunos, mas isso vai acontecer somente se os educadores receberem o apoio que precisam para colocar as diretrizes em prática.

Casos de outros países podem inspirar o processo de implantação da BNCC no Brasil? 
Na Califórnia, na costa oeste americana, o Estado investiu mais de US$ 4 bilhões em formação de professores e desenvolvimento curricular desde a adoção do Common Core (Base nacional dos Estados Unidos que inclui Matemática e Linguagens) em 2010, e segue aplicando dinheiro. A Austrália também fez investimento financeiro semelhante para implementar novos padrões.

Desde o início das discussões, a Base despertou muitas críticas. Por exemplo, alguns consideraram que ela é um limitador da autonomia docente. Isso faz sentido? 
O documento não diz respeito a como ensinar. É dos docentes a decisão sobre a melhor maneira de explorar conteúdos específicos junto aos estudantes. Insisto: a BNCC estabelece metas claras sobre o que eles devem aprender – e isso é um grande passo para o Brasil. A implementação de currículo, seguindo os padrões da Base, essa sim, é uma tarefa à qual estados e municípios devem se dedicar, envolvendo fortemente os educadores.

No dia a dia, nem sempre a teoria corresponde à prática e é provável que os professores tenham de fazer ajustes e adaptações no que diz a BNCC. Isso evidencia problemas no documento? 
Não, de forma alguma. Educadores encontram situações inesperadas em classe a todo momento e constantemente têm de fazer correções, ajustes e desvios no percurso que planejaram com certa antecedência. É justamente por isso que o trabalho deles é tão difícil.

Agora que foi aprovada, a Base tem de ser colocada em prática por todos os educadores, inclusive aqueles contrários a ela. Que conselho o sr. daria a eles? 
Recomendo não só a eles, mas a todos os educadores, que insistam para que funcionários federais, estaduais e municipais de Educação ofereçam formação e o apoio necessário para alinhar o ensino praticado hoje ao que diz a BNCC. Caso contrário, nada vai mudar nas salas de aula brasileiras e o documento vai ficar esquecido numa prateleira em uma sala de Brasília, o que seria uma perda terrível para todos.